[Conto solto] Três tiros.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012 // Postado por Renoth





Ele se suicidou, finalmente. Deixou um bilhete como prova incontestável do fato. Seu corpo estava morto, sem duvida. Três tiros na própria cabeça foi o jeito macabro que escolheu para morrer. Ninguém leu o bilhete, ele não era realmente importante. Ou ao menos não era importante como as grandes marcas de sangue misturada aos próprios miolos que foram feitas nas paredes e em sua cama. O grande sorriso em seu rosto era quase macabro... Quase irreal.
Como alguém poderia dar três tiros na própria cabeça?
Dizem que o tempo de vida que se tem depois que se atira na própria cabeça é de alguns centésimos de segundo. Tudo que se escuta quando acontece é um grande barulho, e depois mais nada. Não há tempo para se sentir dor, não existe mais vontade de se acender um cigarro. Então... Como? Jornais se perguntaram por dias, especialistas deram todos sua opinião, e nenhum deles chegou a uma conclusão válida.
Seu corpo foi encontrado em seu próprio quarto,  que estava trancado por dentro. Sua janela tinha grandes grades de ferro, que ainda estavam intactas. Sua morte era o mistério que nunca havia conseguido escrever. Sua grande obra. Seu derradeiro e maravilhoso desafio a lógica humana. Como ele havia feito?
Sua família negava, é claro, que fosse suicídio. Mesmo com o bilhete, o sorriso, a pólvora em suas mãos e o revolver que tiveram que serrar de sua mão para que fosse solto. Ninguém pode dar três tiros em sua própria cabeça, afirmavam. Devia ser obra de um estranho e maquiavélico assassino, um psicopata louco e perigoso que definitivamente estava solto por entre as ruas. Deveria ser um homem perigoso... 
As grandes cicatrizes em seu pulso eram provas claras a policia de que ele era um suicida em potencial, ou que ao menos tinha o potencial latente de um suicida. Algumas eram roxas e profundas, enquanto outras não passavam de manchas claras e antigas em sua pele. Sua perna ainda tinha vários cortes não cicatrizados. Alguns ainda manchados de sangue quase fresco.
Na morte ele havia se tornado uma das mais macabras celebridades. Camisetas com crânios de três furos de bala na cabeça eram comercializadas, e vendiam como água. Alguém havia invadido seu computador, conversado com amigos, lido seu facebook. Biografias e mais biografias eram vendidas diariamente, e a verdade é que nenhuma delas captava nem de longe a vida dele. Eram esboços de um personagem muito mal criado, mas que agradavam publico e critica.
Era uma pena que ninguém tivesse lido a carta. Nela havia a explicação do truque das três balas, bem como um manual de instruções bem simples de como ele havia feito. Era uma reciclagem de um truque de mágica, um ilusionismo barato e de segunda categoria. É uma grande ironia que a única coisa relevante que ele já tenha dito tenha se tingido com o próprio sangue e pequenos pedaços de seu cérebro. Seu único cálculo ruim naquela aventura que o tinha transformado num símbolo.
É uma pena também que a maioria dos símbolos seja assim. Produzido e distante de sua verdadeira forma. Suas habilidades são reconhecidas até certo ponto, mas só até o ponto que interessa. Só até o ponto que é rentável, vendível.
Ele seria um grande romancista, talvez. Na verdade, ele poderia ser um grande qualquer coisa. Em vez disso ficou conhecido como o homem das três balas, futuro lenda urbana. O mais engraçado é que antes mesmo de virar lenda já não sabiam o nome dele. Suas biografias se misturavam em informações desencontradas que não conseguiam dizer nem seu local de nascimento.
A morte deu, pessoalmente, os parabéns a esse ninguém. Ninguém sabe disso. Ninguém quis saber. Ele só era o homem das três balas.

0 Comentários

Postar um comentário

Em algum lugar...
Contos e pedaços aleatórios da minha vida. Quase um diário, quase um poema, quase um livro. Se descobrir o que é, favor contactar contando.
Sakura’s warning: não mexam na groselha na geladeira. Grata.

Quem?

Eu? Bem, não há muito a dizer. Cursando o segundo semestre da faculdade de jogos digitais na fatec, e o sexto ou sétimo modulo do curso de computação gráfica da Saga. Um futuro profissional da área de jogos, ou de qualquer outra área que venha a me aceitar. Um pequeno monstro com um grande fraco pelo Konta.

como me achar?

Já tentou me procurar?
Nyah!
Twitter
DA
Tumblr
msn e email pra contato: renoth@hotmail.com

Button




Seguidores


Arquivos

janeiro 2010
fevereiro 2010
março 2010
abril 2010
maio 2010
junho 2010
julho 2010
agosto 2010
setembro 2010
outubro 2010
novembro 2010
dezembro 2010
janeiro 2011
fevereiro 2011
março 2011
abril 2011
maio 2011
junho 2011
julho 2011
agosto 2011
setembro 2011
outubro 2011
novembro 2011
janeiro 2012
fevereiro 2012
março 2012
abril 2012
agosto 2012
outubro 2012
novembro 2012
dezembro 2012
janeiro 2013
abril 2013
junho 2014


C-box


Créditos