Sem lua.
terça-feira, 7 de agosto de 2012 // Postado por Renoth
A noite estava escura. Me incomodava, mas já estava acostumado. Ela sempre sumia, por uma semana, um vez por mês. Ele riu, e confesso que sua risada me machucou. Fazia tempos que não ria assim de mim, sem motivos. Não lembro se comecei a chorar antes ou depois. É um defeito, eu acho, choro antes de me dar conta que tenho motivos para estar fazendo o mesmo.
Esse foi o primeiro paradoxo da noite. Ele ria porque eu estava chorando ou eu estava chorando porque ele estava rindo?
-Isso é maldade. - Afirmei. Secando as lágrimas uma a uma.
Ele se conteve. Olhou pela janela, na mesma direção que eu olhava. Era provável que esse fosse o motivo de eu gostar dele, ele conseguia se teletransportar até meus pensamentos.
-Então ela não está aqui? - Perguntou.
-Não.
-Acha que vai demorar sete dias novamente pra voltar?
-Quem sabe, sabe como ela é imprevisível... - Afirmei distraído. - Não é como se ela tivesse alguma obrigação para conosco.
Ele gargalhou.
-De fato, não é como se ela fosse voltar, ainda que tivesse. Mas diga-me, é algo que você possa tratar comigo? - Perguntou.
Eu ri.
-Como nossa situação é patética. - Afirmei.
-É um paradoxo. - Respondeu, ainda que eu não tivesse feito nenhuma pergunta. - Eu gosto de você, que gosta dela, que gosta de alguém que gosta de mim.
-O cupido não presta. - As lágrimas voltaram a escorrer antes que eu pudesse fazer algo para impedir.
-Pode ser verdade, mas eu não diria nada que pudesse vir a ofender um deus em um lugar como esse. - Riu ele. - Sabe, esse lugar ainda é sagrado.
Eu não estava interessado nisso, então mudei de assunto tão rápido quanto poderia.
-Diga-me, como uma vampira torna-se alérgica a lua? - Pedi. A questão a muito me assombrava.
-Do mesmo modo que o sol pode matar outra. - Respondeu de imediato. Ele já havia se acostumado a minhas trocas rápidas de assunto. - Sabe, isso é mais complicado do que parece. Como um humano que deveria ter virado um anjo, mas foi pro inferno tem seu corpo de volta e restaurado, na forma imortal com poderes demoníacos?
-Passando meses preso entre planos que facilmente superam a dor que se pode ter no inferno. - Ri, entre lágrimas. - Mas o importante mesmo é ter contatos.
-E como vai o gato preto do azar? Ouvi dizer que tinha arrumado ótima companhia.
-Treze? Tem passado divinamente. - Esbocei um sorriso fraco que só conseguia soltar pensando nele. - E é, conseguiu três eximias aprendizes. Ex-piratas, que colaboraram indiretamente na morte de alguém importante. Acabaram ficando presas aqui, e no fim das contas ele tem um coração que não cabe no peito.
Foi a vez dele de rir, mas pela primeira vez na noite seu sorriso não parecia de forma alguma irônico.
-O grande monstro da perdição tem um coração que não cabe no peito?
-Você se esquece que "O grande monstro da perdição" era na verdade uma dupla, e que eu era metade dela. - Sorri. - Embora ele pratique mais que eu atualmente, minhas marcas já foram muito maiores que as dele.
-Hum... Que assustador.
-Pare de me imaginar na sua cama ou sairei. - Rosnei. - Francamente, eu não tenho que passar por isso novamente. Um cachorro já é o suficiente para uma vida inteira.
-Eu não sou como ele. - Respondeu fazendo um bico.
-Realmente não. Ele era pervertido, mas nunca foi babaca comigo. - Gargalhei. - Aliás, deve ser ela nesse momento... Era ela originalmente, de qualquer forma. Deve estar muito feliz depois da saída da Sakura do caminho. Agora ela pode amar. Desejo toda a felicidade que for possível à ela.
-Ainda a ama? - Perguntou. Sua voz tinha pequenos traços de ciume, tentando se esconder.
-Como não amar? - Sorri. - Mas não é como se fosse algo sustentável. Afrodite deve ter sérios problemas comigo.
-É culpa do Destino, na verdade.
Sorri, e me levantei. Ele me olhou, confuso. Ainda não conseguia ler minhas expressões, ainda não conseguia prever meus movimentos. Talvez por isso não fosse divertido o suficiente, mas também era provável que essa fosse a causa pra eu não me afastar completamente. Sempre tive um fraco por inocência, no fim das contas.
-Onde vai? - Perguntou. Pensou em segurar meu braço por um segundo, mas, pelo movimento evasivo que fez logo deve ter lembrado que eu tinha acidentalmente arrancado o braço dele da ultima vez que tinha tido essa reação. Meu olhar ao ver sua mão se estender a meu corpo deve ter sido realmente ameaçador, já que ele deu um pulo instintivo pra trás. - Você me prometeu que contaria, antes de ir embora.
-Diga a Eliadne que passei por aqui. - Pedi sorrindo.
-Por que você raspou a cabeça se seu cabelo era tão belo, Ritashi? - Perguntou.
-Será um prazer o rever em um outro dia, Ed. Cuide-se até lá. - Pedi. Não ouvi a resposta, já estava longe. Meu corpo era mais rápido do que eu estava acostumado, e a pequena pedra azul em meu pescoço com quase toda certeza ajudava. Era hora de enfrentar Destino... Não, já havia passado da hora.
O que me levava a outro paradoxo. Deveria enfrentá-lo por que era meu Destino, ou estaria eu indo contra o meu Destino ao enfrentá-lo?
A única certeza que eu tinha nesse momento era que odiava paradoxos.
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