Mão errada.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012 // Postado por Renoth
Tenho visto tanto poder espalhado por ai.
Uma faculdade de tecnologia pode acabar mexendo com a cabeça das pessoas... Ou será que qualquer conhecimento novo tem o poder de fazer isso? Não existe nada que eu possa aprender sem me tornar um monstro paranoico?
Infelizmente não existe um delete. Nunca existiu. A informação vem, vai e fica. Se espalha, se divulga, se sub-entende. Jamais poderei desaprender nada. Não dá. Já tentei. Minha bicicleta ainda me levaria ao lugar que eu quisesse ir, mesmo depois de meses sem montar nela. A informação pode ser esquecida, o conhecimento que ela traz não. Quando eu queria aprender a andar, meu cérebro juntou informações técnicas pertinentes a como seria essa aventura. Que músculos mexer, e em que ordem. Esquerda, direita, esquerda, direita. O esforço era permanente e constante, pois se não o fosse eu cairia. Hoje não preciso reunir essas informações quando levanto pela cama de manha. Posso ir até a faculdade sem elas. Eu as esqueci, mas o conhecimento que foi provido daquilo nunca poderá ser deletado. Não existe delete, nem na minha mente nem nas maquinas.
O blogger junta todos os meus pensamentos, um por um. Ele me dá um Gmail para organizar comentários e o que mais eu queira. Uma rede social me mostra quantos amigos, parentes e conhecidos eu tenho. Meu celular sabe para onde eu vou, quando eu vou, como eu vou. Ônibus? Carro? A pé? Existe um mapa que ele vai me dar em segundos, apitando se eu tomar a direção errada. Todas as minhas ideias, passos e movimentos arquivados num lugar de fácil acesso. Um servidor eterno, onde o delete não existe.
Você já parou pra pensar em quem você é num mundo onde o delete não existe?
Você cometeu um erro, a 15 anos. A informação se perdeu, mas a rede não esqueceu. É um conhecimento que ela inseriu bem fundo no meio de blocos de informação de linha única. Dá trabalho pra achar, dá, mas está lá, arquivado. E o que você pesquisou... Ah, essa é a parte divertida. Não o que você pesquisou em publico, mas aqueles links que viu sozinho, no seu quarto, no escuro. Não existe delete. Eles sabem de tudo.
Mas... Pra que eles precisam saber de tudo isso?
Realmente não sei. Deve existir, no fundo de um banco de dados do Apache, uma linha ou coluna que explique pra que de fato se usa tanto poder. Manipulação? Conhecimento? Controle? Talvez, quem sabe...
Até que se prove o contrario você é culpado. E o contrario vai ser realmente difícil de provar. Você não lembra mais como anda, que músculos mexe no processo. Não pensa mais na esquerda ou na direita antes de dar o próximo passo. Não lembra mais do que pesquisou a 5 anos, numa quarta-feira de tédio e chuva. Como provar que não, se aquele numero pertencia a sua conexão?
Ah, mais uma informação no sistema. Agora está lá de quem eu gosto mais. Meus medos, incertezas e inseguranças. Catalogadas, numa ordem perfeita demais pra ser desfeita. Não à vista, mas no fundo de um arquivo. Informações sobrepujadas as vezes desfazem antigas. Se atualizam e confundem, mas não se apagam. Não tem como desfazer. Não é possível deletar.
E tudo isso na mão de alguém. Que eu não sei quem é, nem onde está, mas que sabe absolutamente tudo sobre mim. Artista favorito, sexualidade, perversidade, orientação politica. Na mão de alguém. Não na minha. Na mão errada.
Esquerda, direita, apito, direção errada. Direita, frente. Dê a volta e chegará.
Sem delete.
3 Comentários
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comentou...
http://martyco.tumblr.com/
23 de agosto de 2012 às 12:55
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Renoth comentou...
Olá anonimo. Não entendi direito seu comentário, seria uma divulgação?
Obrigado pela visita, volte sempre.
24 de agosto de 2012 às 00:24
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Autumn comentou...
Posha texto bom demais, Renoth D: O modo como escolheu finalizá-lo foi fantástico.
"E tudo isso na mão de alguém. Que eu não sei quem é, nem onde está, mas que sabe absolutamente tudo sobre mim. Artista favorito, sexualidade, perversidade, orientação politica. Na mão de alguém. Não na minha. Na mão errada.
Esquerda, direita, apito, direção errada. Direita, frente. Dê a volta e chegará.
Sem delete."
Nem sei o que comentar. você deveria ser colunista em um jornal, só digo isso.
17 de setembro de 2012 às 08:06
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