[Conto Solto]- O Desaparecimento de ninguém.

sábado, 19 de fevereiro de 2011 // Postado por Renoth





Ele caminhava lentamente, ia do quarto ao banheiro, como fazia toda noite. Carregava no bolso uma pequena lamina afiada e lisa, isso era novidade, mas não era uma novidade divertida. Pensou muito em escrever uma carta de suicídio, era uma pessoa que gostava muito de escrever, mas assim que pensou nisso se lembrou que ninguém a leria. Não havia ninguém.

Sentou na privada com sua tampa abaixada, puxou a faca do bolso sem pressa. É engraçado como o certo se torna incerto nessas horas, ele hesitou, mas mesmo assim colocou a faca sobre o pulso e num único puxão a lamina fez um grande corte.

A lamina foi jogada rapidamente no chão, sua ponta suja sujou um dos tapetes que estava mais próximo. Ele viu a profundidade do corte e apesar de ser inexperiente nessa pratica, concluiu o que o corte o corte era profundo o suficiente para matá-lo se o socorro medido não fosse prestado. Não seria. Mesmo que ele gritasse “estou morrendo” ninguém de sua casa o levaria para o hospital às quatro horas da manha. Ele visualizou sua mãe respondendo num resmungo: “se quando eu acordar você ainda estiver vivo eu te levo no hospital...” e começou a rir disso. A reação dela realmente deveria ser essa...

Olhou para os dois lados e lembrou que estava no banheiro. Riu da escolha ridícula do lugar enquanto o sangue escorria e sujava suas roupas, “eu realmente podia te pensado num lugar melhor, agora vão ficar falando que esse banheiro é amaldiçoado por gerações” pensou rindo de novo. Ele estava feliz, isso era raro para ele, ele conseguia rir do fato de sua vida estar acabando, do fato de estar completamente sozinho, do fato de que ninguém moveria uma palha para salva-lo, nem se tivessem essa chance...

As lagrimas começaram a escorrer lentamente em seu rosto e ele percebeu que sua felicidade estava indo embora, ele não ficou muito chateado com isso, a felicidade dele nunca havia durado mais do que dez ou quinze minutos, já não se importava mais com isso.

Sempre pensou que seria legal morrer no auge da sua vida, isso antes de descobrir que sua vida não teria um auge, claro. Quando descobriu isso achou que a morte seria agradável em qualquer momento que viesse. Ele até queria esperar a morte natural (sempre pensou que ia desenvolver um câncer), mas isso ia demorar demais, e o suicídio parecia mais divertido e único. Se alguma doença ou pessoa ia matá-lo um dia por que não fazer isso ele mesmo¿ ao menos aproveitaria a emoção de matar.

Uma lagrima discreta escorreu, seguida de outra menos discreta, e de outra, e de outra. Em pouco tempo ele já estava chorando alto, no fundo esperava que alguém entrasse pela porta e o levasse correndo pro hospital, que aparecesse alguém que ele nunca tinha visto, lhe dissesse “eu te amo” e o levasse embora. Nada disso ia acontecer, e se dar conta desse fato era mais doloroso que se cortar, era mais doloroso que tudo que ele já havia sentido. Já era tarde demais, ele já devia estar sangrando a meia hora, e estando a meia hora do centro urbano de sua cidade, morreria ainda que chegasse ao hospital.

Levantou, ficou repentinamente decidido a não morrer sentado numa tampa de privada. Molhando o caminho com lagrimas e sangue foi até seu quarto, deitou em sua cama, abraçou seu ursinho de pelúcia favorito e se cobriu.

Ele morreu, mas as pessoas só se deram conta desse fato 12 horas depois de sua morte. O enterro (feito as pressas e com baixo orçamento) contava com um numero considerável de pessoas chorando e lamentando. Mas já era tarde, ele já estava numa caixa de madeira, agarrado a um ursinho de blusa verde que não tiveram coragem de tirar dele. Nem parecia ter 17 anos... Parecia mais jovem do que todas as crianças presentes.

Seu cabelo meio longo estava muito arrumado, assim como suas vestes sociais. As pessoas pegavam uma a uma em sua mão, beijavam seu rosto com grande carinho. Onde estas mesmas pessoas estavam na semana anterior não se sabe, mas ainda assim se sentiam no direito de tocar aquele corpo que apesar de sem vida ainda tinha dono.

Em duas semanas as pessoas pararam de chorar, em 4 deixaram toda a tristeza partir e em 6 meses esqueceram que ele já havia vivido. Nem um fantasma ele pode se tornar, fantasmas precisam de lembranças e nada sobre ele existia. Ele simplesmente sumiu e lentamente desapareceu.

E ainda está em algum lugar completa e totalmente sozinho...

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Eu? Bem, não há muito a dizer. Cursando o segundo semestre da faculdade de jogos digitais na fatec, e o sexto ou sétimo modulo do curso de computação gráfica da Saga. Um futuro profissional da área de jogos, ou de qualquer outra área que venha a me aceitar. Um pequeno monstro com um grande fraco pelo Konta.

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