A vampira que se hidrata
terça-feira, 17 de agosto de 2010 // Postado por Renoth
Acordei. A noite parecia agradável, mas eu nunca teria certeza, tinha perdido a algum tempo a habilidade de me sentir agradada com algo que não fosse sangue. Fui até o banheiro do enorme apartamento onde eu estava e comecei meu ciclo diário de hidratação facial. Não faria diferença nenhuma é claro, mas eu gostava de dar continuidade aos rituais que me regiam quando eu era viva. Por algum motivo isso fazia com que eu me sentisse mais humana, menos monstruosa. Ainda que isso fosse apesar uma ilusão, como mais um truque de espelhos feito por um mago, eu me sentia melhor assim. Eu tinha esse direito, não tinha?
Fiquei por alguns instantes em frente ao espelho. Eu tinha reflexo, mas conhecia vampiros que não tinham. Achava o fato engraçado, afinal de todas as habilidades que a quase morte podia proporcionar, e eu tinha a que considerava menos útil: Reflexo em espelhos e rostos em fotos. Preferia poder ver o sol, ser uma vampira diurna, mas é claro, esse tipo de coisa não se escolhe.
Comecei a pentear os meus longos cabelos negros com a ponta dos dedos. Eu tinha tentado usar um pente varias vezes, mas descobri que o titânio sedia aos nós dos meus cabelos muito facilmente. Pensei por alguns segundos em como isso era deprimente, não morrer facilmente.
Já tinha tentado me suicidar duas vezes, e o resultado foi negativo em ambas as tentativas. Na primeira peguei uma pequena faca de prata , que penetrou com certa dificuldade minha pele. A dor foi muito forte, mas trouxe um estranho prazer, um êxtase que me levou a matar quinze pessoas em um ataque de fome que seria vergonhoso até para recem criados. A segunda foi ainda mais humilhante e devastadora. Decidi que me deixaria expor ao sol, dormindo em uma praça sem nenhum tipo de proteção. Acordei no dia seguinte, tendo certeza plena e absoluta de que ninguém havia me carregado até ali. Foi nesse dia que descobri que não tinha mais poder de escolha e que estava selada ao cruel desfecho dos sem vida: Matar pra viver a morte eternamente.
Abri a boca e percebi que ainda havia sangue nos meus dentes brancos. Abri o pequeno armário e peguei uma escova e uma pasta de dente sabor menta refrescante. Você sabe o trabalho que da remover substancias como o sangue completamente!? inimaginável! Mas não, eu não sentia o sabor da pasta, e pouca diferença faria se fosse agua sanitária ou acido sulfúrico. Eu nunca mais sentiria sabores, apenas sede.
Cuspi os restos avermelhados de minha boca na pia e joguei os pedaços retorcidos de metal que restaram de minha escova no lixo. Analisei as chances de eu estar com mau alito e, considerando a quantidade de sangue dormido (e possivelmente coagulado) que eu tinha acabado de cuspir elas não eram poucas. Mas ainda assim o cheiro deveria atrair humanos. Pensei em como os homens (e também as mulheres) eram fracos, como se sentiam atraídos pelo cheiro de morte que todos os poros do meu corpo exalavam, como eram frágeis, mortos por simples pedaços de metal. Lembrei também da inveja que sentia deles por sua doce ignorância, por conseguirem acreditar cegamente que o mundo não tinha nada de sobrenatural, que vampiros eram bonzinhos e que os seus problemas tão pequenos eram os maiores do mundo. Sim, os seres humanos eram invejáveis por sua constante mutação, afinal, o homem mais cruel do mundo poderia mudar amanhã. Nós não, afinal estamos mortos.
Puxei um vestido que estava separado para a ocasião. Era preto, trazendo um ar gótico de luto. Tinha um decote relativamente grande e um corte que subia rente a perna. Não era nem grande demais nem curto demais, dando um estranho ar de nudez vestida ao meu corpo. Perfeito, quase perfeito demais para ser usado por mim. Quase.
O sapato separado era igualmente lindo, preto e com salto de dez centímetros, aberto na frente com uma pequena tira de tecido para prender o calcanhar. Ok, eu preferia botas, mas elas tiravam um pouco do ar superior que eu gostava tanto de exibir. Eu não era mais comum, não queria parecer nada que eu não fosse, apesar de parecer humana.
Sai de casa deixando a porta destrancada, e torcendo para alguém entrar enquanto eu estava fora, deste modo eu teria caça divertida para ocupar o muito tempo vago que eu tinha. Alem disso, eu estaria matando uma pessoa que fez algo contra mim ao menos uma vez (invasão é crime, sabia?), matar uma pessoa que me fez algo ruim parecia muito melhor que matar um desconhecido. parecia menos errado.
Arumada e momentaneamente sem fome segui em direção ao funeral daquele que foi meu amor de infancia. Era triste, mas pelo menos ele tinha a sorte de ter morrido. é como uma enorme ponte, de um lado os vivos de outros os mortos, estando eu eternamente parada entre um e outro.
3 Comentários
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Keiko Sakurai comentou...
WA..O-O (8---8 é uma vampira...que imaginação você tem renoth,coitada da escova...) *desmaia*
17 de agosto de 2010 às 11:34
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comentou...
putz, dahora kra,bem "true bloodesco" esse texto, mas os vampiros todos eles tem reflexo no espelho, esse mito de que vamps nao tinham reflexos no espelho foi inventado pelos proprios
sangue sugas,assim eles poderiam se disfarçar e ate provar que nao eram vampiros pros pobres humanos, assim tornando os humanos presas faceis, legal neah?
Isso e otras "cositas" mais se aprende em True Blood ,viva True Blood e a HBO...
18 de agosto de 2010 às 14:15
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Mimy comentou...
muito legal *--* adoro coisas de vampiros (acho que você já sabe disso ^^')... shuahsuhaushuahs
Eu acho que vampiros continuam com os antigos hábitos =D tipo a minha que ainda toma banho xD
19 de agosto de 2010 às 16:25
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